Tocantins prepara retorno de bugios à convivência em grupos de suas espécies

Alouatta caraya_femea

O Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) prepara para os meses de maio e junho a transferência de quatro primatas bugio, também conhecidos por guariba ou barbado, e de nomes científicos Alouatta caraya e Alouatta belzebul, para criadouros conservacionistas da Bahia e Pará, onde esses animais silvestres poderão retornar à convivência em grupo, característica essencial de sua espécie.

Após passar um longo período sob os cuidados da equipe do Centro de Fauna do Tocantins (Cefau/Naturatins), os bugios, oriundos de resgates em residências onde eram criados ilegalmente, ganham uma nova chance de retorno a um grupo social. São espécies que, no território tocantinense, habitam as matas do Cerrado e dos remanescentes do bioma Amazônia na região norte.

Segundo a equipe técnica do Cefau, todos têm histórico semelhante. Duas fêmeas da espécie Alouatta caraya serão recepcionadas no Parque Vida Cerrado, um centro de conservação e educação socioambiental localizado na região oeste da Bahia.  E um casal da espécie Alouatta belzebul, bugio de mãos-ruivas, ameaçada de extinção e endêmica ao Brasil, será recepcionado no Parque Zoobotânico Vale, localizado na Unidade de Conservação Floresta Nacional de Carajás, no Estado do Pará.

“Nestes abrigos, as espécies estarão protegidas contra novas ameaças e terão a oportunidade de viver em grupos, uma característica essencial destas espécies. Os trâmites legais, para a viagem dos bugios, estão sendo providenciados com muita expectativa, já dispondo da recomendação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio), para a transferência. E desta forma, o Naturatins segue no cumprimento de sua missão, buscando as melhores soluções, para proteger a natureza do Cerrado”, assegura Angélica Beatriz Corrêa Gonçalves, coordenadora do Ciamb.

“Não poderíamos ter missão mais nobre que esta, de cuidar do Cerrado e é com essa motivação que servidores do Naturatins cumprem seu papel dia após dia, em cada um dos setores da instituição, nas diferentes atribuições, que resultam na execução da política ambiental. Mas, infelizmente, não faltam ameaças à integridade do Cerrado, como exemplo o desmatamento feito sem planejamento ambiental, que avança reduzindo áreas de forma rápida e causando o esgotamento dos recursos naturais, não levando em conta a vida de pessoas, flora e fauna”, afirma a coordenadora do Ciamb.

“No Cefau são recebidos animais impactados pela intervenção humana, seja pela perda dos seus ambientes naturais causada pelo desmatamento, por incêndios florestais, pelo tráfico e muitas vezes pela mão humana, que retira os animais da natureza simplesmente para satisfazer um capricho de possuir um animal silvestre em casa. Além de ser crime ambiental previsto na Lei 9605/1998, é de uma crueldade sem adjetivos”, conclui Angélica Beatriz.

De acordo com o Naturatins, os animais acolhidos no Cefau recebem cuidados, tratamento, reabilitação e posteriormente podem ter três destinações. Após a avaliação da equipe técnica, podem ser soltos no ambiente natural quando demonstram aptidão física, nutricional, comportamental e de saúde; destinados para criadouros conservacionistas legalizados, quando não apresentam requisitos para retornar à natureza; se vierem à óbito, são destinados à projetos de pesquisa ou coleção científica.

O Estado do Tocantins tem 91% do seu território composto pelo bioma Cerrado, os demais 9%, pelo bioma Amazônia (IBGE). O Cerrado tem expressiva riqueza de fauna e flora, sendo o segundo maior bioma em extensão no Brasil e o de maior biodiversidade dentre todas as savanas do mundo. Os registros apontam a presença de 199 espécies de mamíferos, 864 de aves, 180 de répteis, 210 de anfíbios e 1.200 de peixes. E já foram catalogadas 12 mil espécies de plantas, sendo 4 mil delas endêmicas, ou seja, de ocorrência exclusiva no bioma.

Solturas

De acordo com o Cefau, entre outubro de 2020 a março de 2021, foram devolvidos à natureza exemplares das espécies jaguatirica (Leopardus pardalis), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), ouriço-cacheiro (Coendou prehensilis), maracanã-do-butiti (Orthopsittaca manilata), jacupemba (Penelope superciliaris), macaco-prego (Sapajus libidinosus); dentre outros.

O Naturatins adota o procedimento de evitar a divulgação das solturas dos animais silvestres, no momento de sua realização, para potencializar a segurança das espécies durante o intervalo de ambientação no retorno à natureza.

Cefau

Sob a administração do Naturatins, por meio da Gerência de Pesquisa e Informação da Biodiversidade (GPIB), o Centro de Fauna do Tocantins (Cefau) foi instituído pela Portaria nº158/2019, com o objetivo de garantir a proteção da fauna silvestre por meio da operacionalização de ações de assistência aos animais que se encontram em perigo iminente, e de ações socioambientais e educativas, que vislumbra a prevenção da saúde da população e o combate ao tráfico de animais.

O Cefau é composto por duas unidades operacionais, uma é o Centro de Triagem e Reabilitação – Cetras, que tem a finalidade de receber, identificar, triar, recuperar e destinar animais silvestres provenientes de ação de fiscalização, resgate ou de entrega voluntária; e a outra é o Centro de Interpretação Ambiental – Ciamb, que é responsável por implantar e apoiar campanhas educativas, programas, projetos e ações que envolvam a proteção à fauna silvestre.

Para contato com o setor de Fauna, o Naturatins disponibiliza os contatos por telefone através do (63) 3218.2660 ou via e-mail fauna@naturatins.to.gov.br 

 (Com informações de Angélica Beatriz C. Gonçalves, Bióloga, Inspetora de Recursos Naturais).